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Resgate no Bunker 49

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Juno lia novamente o bilhete escrito num cartão de visitas: “Recuperem apenas a caixa de suprimentos. Todo o restante é descartável”. Seus dedos sujos borraram parte das palavras escritas à caneta antes que ele pudesse guardá-lo no bolso do colete. Tudo parecia fácil demais, mesmo com a batalha previamente travada por Silo, um ímpar conhecido que trabalhava para o Domo e neste momento, jazia despedaçado no chão em meio aos corpos dos soldados abatidos.

— Tem mais um aqui, Juno. Vem dar uma olhada. — Riko, um homem esguio e careca com trajes militares, apontou para um ímpar uniformizado caído em outra parte do pátio, chamando a atenção de Juno. Ao lado dele, a terceira integrante do grupo, Lila, escaneava a área com um aparato feito de luz sólida, criado pelos seus poderes biotecnológicos.

— Houve combate pesado aqui. — Lila fala enquanto escaneia os corpos, um a um. — Segundo meus cálculos, Silo lutou contra um outro Ímpar que pretendia defender o lugar ao lado destes soldados. Só não consigo entender os motivos. 

Riko pegou a caixa dos braços do cadáver de Silo, que morreu com a metade do corpo agarrada ao objeto metálico. — Não somos pagos para entender nada, garota. Vamos dar o fora daqui e levar a caixa pro capelão. 

— Riko está certo. — Diz Juno. — Entrem no jipe e vamos embora.

Juno assentiu, embora algo na cena o incomodasse. Ele não demonstrou, mas seus olhos estreitados revelavam que tentava encontrar respostas. Mais tarde, enquanto conduzia o veículo militar, seus pensamentos estavam a mil.

— Por que o Incarnato iria contratar um grupo de mercenários para coletar um objeto de dentro de um bunker da Normandi? — Pensou Juno. — Essa corja não está toda relacionada ao Domo? Por que aqueles dois ímpares se digladiaram? Será que Silo tentou roubar seus próprios empregadores? Será que ele se voltou contra o Domo? Putz… que doideira!

Ainda perdido em pensamentos, Juno parou o carro.

— Sairemos ao amanhecer, pessoal. Vocês têm seis horas de sono. — Enquanto falava, Juno observava Riko e Lila desembarcarem do veículo.


A paisagem cinza se banhava sob uma lua prateada e brilhante, de tal modo que não poderia jamais ser vista antes dos bombardeios. Nos dias atuais, a cidade descansava silenciosa e perigosa, como um morto-vivo esperando para engolir quem quer que se aproxime dela. Os esqueletos dos prédios estavam velhos demais para fornecer abrigo, quase todos com sérios riscos de desabamento. Os buracos, becos e cantos escuros poderiam abrigar animais mutantes ou frenéticos adormecidos. O grupo acendeu um lampião a gás e estabeleceu um pequeno acampamento ali mesmo, próximo ao veículo, num antigo pátio sobre uma quadra de futebol desgastada e cercado de prédios residenciais.

Juno colocou a maleta sob a cabeça como um travesseiro, e se acomodou para cochilar. Lila se deitou e pegou uma velha revista de modas que o vento arrastava pelo chão e começou a folheá-la.

— Eu fico no primeiro turno. — Riko pendurou seu fuzil de precisão e começou a olhar ao redor. Seu olhar se fixou em uma parede quebrada no terceiro andar de um dos prédios. Era um ótimo lugar para montar guarda com uma visão privilegiada do acampamento. Ele se dirigiu até o prédio e adentrou o saguão abandonado devagar. Mesmo sendo cuidadoso, seus passos eram marcados pelo farfalhar de folhas e ruídos de vidro e pedra se quebrando.

— O lugar está uma zona. — Pensou Riko. O facho de luz de sua lanterna era enturvado pela poeira enquanto ele examinava o local. No térreo, algo que outrora fora uma recepção tinha além de destroços, buracos redondos em algumas paredes e no chão, medindo cerca de um metro de diâmetro.

Não deu tempo de retornar ao acampamento para avisar seus companheiros. Ao virar-se para a entrada, a luz da lanterna de Riko repousou sobre um enorme pytunã, parada sobre as patas traseiras, farejando o ar em busca de seu alvo. Pytunãs eram caçadoras natas e um dos maiores terrores que a radiação dos Ermos pôde criar. Assemelhavam-se a toupeiras levemente humanoides, que em combate assumiam uma posição bípede para atacar com suas enormes garras.

Um tiro derrubaria a criatura, mas era certo que haveriam outras por perto e elas seriam alertadas pelo barulho. Por sorte, as pytunãs eram criaturas cegas e ela não estava enxergando Riko. Porém, seu faro aguçado e sentido sísmico o encontrariam em breve se ele não agisse rápido. Riko abaixou a arma, apontou sua lanterna para fora do prédio e começou a enviar sinais de S.O.S. para seus companheiros, desligando e ligando a lanterna em sequência de códigos Morse. Após três sequências sem resposta, Riko virou novamente a lanterna para a criatura, que já não estava mais na sua frente. A pouca luz da noite que entrava pelas janelas do saguão não era suficiente para dar uma noção de onde teria ido parar a criatura, que nem tampouco fez algum barulho que denunciasse sua localização. Riko começou a apontar a lanterna para todas as direções, mas não podia se virar para trás sem fazer barulho nos escombros sob seus pés. Até que, com todo cuidado, levantou o pé direito para tentar virar o corpo.

CLASH! Riko apontou sua lanterna para o chão, revelando cacos de vidro que se quebraram bem debaixo do pé esquerdo quando conseguiu se virar. Retornando o facho de luz para frente, uma bocarra se aproximou com violência a centímetros do seu rosto para tentar comer sua cabeça, fazendo com que Riko caísse para trás em posição de defesa. A Pytunã, que tinha cerca de 1,2 metros de altura e pesava mais de 80 quilos, caiu sobre Riko tentando lhe abocanhar a face, enquanto ele, com seu rifle, tentava se defender e empurrá-la. Riko usou a arma como alavanca para lançar a criatura para o lado, dando-lhe espaço para efetuar um disparo certeiro na cabeça. Depois, correu para fora do saguão e encontrou seus companheiros cercados por doze pytunãs. Olhou ao redor, presumindo que houvessem mais delas escondidas nas sombras das ruínas, mas, embora soubesse que elas estavam em maior número, não enxergou outras criaturas.

O chão se quebrou sob os pés de Lila, e um buraco se abriu revelando uma pytunã que tentava puxá-la para baixo.

— Cuidado, Lila! — gritou Riko, abrindo fogo contra as criaturas.

Riko se abrigou nas ruínas, posicionando seu rifle e começando a disparar, acertando cada pytunã com um tiro na cabeça. Juno causou um pequeno tremor no chão enquanto seus pés se desprendiam do solo, levantando seu corpo e o deixando suspenso no ar. Depois, com simples gestos manuais, ele aumentava a força da gravidade ao redor das criaturas, fazendo com que virassem uma massa retorcida e esmagada de carne e ossos. Lila tentava se desvencilhar da criatura e soltava uma das mãos para tocar seu cinto e criar imediatamente uma armadura feita de luz sólida.

O combate perdurou por mais de cinco minutos, conforme mais e mais pytunãs apareciam vindas do solo ou de dentro das ruínas dos prédios ao redor. No pátio, uma cena de guerra contrastava com o que já foi aquele lugar. Balanços, gangorras e outros brinquedos eram destroçados junto com todo o cenário, levantando uma poeira que dificultava cada vez mais a visão do combate, dando vantagem às criaturas que não precisavam ver para encontrar seus alvos.

Lila disparava uma enorme metralhadora “minigun” feita de luz sólida. Juno, agora voando ainda mais alto para ter uma melhor visão do campo de batalha, esmagava as pytunãs ou as arremessava umas contra as outras. Riko, ainda parado no mesmo lugar e usando uma meia parede como proteção, disparava seu rifle de precisão com munições de energia, realizando um ou dois abates por cada tiro sem precisar recarregar sua arma. Quando soou o último disparo, a poeira foi atingida pela brisa da noite e começou a se dissipar.

— Estão todos bem? — Questionou Juno, descendo do ar lentamente até pousar no solo. Percebendo que Lila estava agachada, de costas com sua armadura luminosa se desfazendo, foi até a moça para saber o que ela estava procurando. Encontrou Lila com um objeto em mãos, retirado do meio dos restos de uma pytunã esmagada. Era a caixa que deveria ser entregue ao contratante. Aquela que deveria ser protegida a todo custo e que, agora, não passava de uma chapa de metal destruído. Dentre os destroços estavam alguns cristais espalhados, cada um medindo cerca de 10 cm, que provavelmente saíram do interior da caixa. Lila segurava os cristais, seis ao todo e após limpá-los com o tecido do jaleco, dividiu-os com o grupo para que todos pudessem averiguar.

Continua…

 


Oddcell é um universo de RPG que aborda um planeta Terra em 2048, devastado por uma guerra nuclear sob resquícios de um vírus que transformou pessoas comuns em seres dotados de poderes inimagináveis. Acompanhe o site e fique por dentro das novidades. oddcell.com.br

 

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