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Construindo NPCs interessantes para seu RPG (Pt.1)

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Em um RPG, ou role-playing game, parte essencial para uma aventura marcante, seja uma one-shot épica ou uma campanha recorrente de múltiplos anos, é a construção de personagens interessantes, dinâmicos e tridimensionais, que demonstrem ser parte daquele universo. Em qualquer narrativa, seja um livro, uma novela, um jogo ou uma sessão, a existência e ação dos personagens, os elementos fundamentais da narrativa, são o combustível que conduz o movimento da história para frente.

Entretanto, diferente da escrita de um livro ou uma novela, em um RPG há um elemento mágico, caótico e divino que diferencia a arte dos jogos de todas as outras: a interação. Nos jogos, do RPG de mesa ao videogame, a presença do jogador ou jogadores é uma “constante inconstante”, um fator de caos e de possibilidades no meio da narrativa que pode (e deve!), em maior ou menor grau, influenciar o rumo da história.

Criar a história de um RPG é diferente de criar a de um livro. Em um romance, partindo de estrutura, das minhocas do inconsciente ou de um pouquinho de ambos, o autor coordena o rumo da história, a reação de seus personagens e as dinâmicas que disso surgem. Do início ao fim, os elementos do livro giram em torno do autor como planetas entre o sol.

Em um RPG, a construção é coletiva

A interação entre os personagens dos jogadores e os outros dentro do cenário, cada um com seus interesses, propósitos e motivações distintos, é o que deve coordenar o avanço da história. Entre outros fatores, o que ascende uma campanha a uma construção épica e memorável, lembrada por anos a fio, é a presença de personagens interessantes e bem construídos. Personagens cujas histórias fazem os jogadores empatizarem e mergulharem em seus papéis e interações.

Às vezes, pode ser que o necessário para seu jogo seja uma simples tabela de nomes, uma rolagem de atitudes e boa manha para improvisar. Isso é mais do que suficiente para muitos bons mestres. Mas caso você queira dar um pouco mais de estrutura aos seus personagens não jogáveis (ou NPCs), ou se, como eu, acredita que o improviso flui muito melhor quando preparamos uma base sólida, acompanhe as dicas abaixo.

Determine o propósito do personagem

Antes de idealizar o personagem em si, seus desejos, medos e necessidades, pense no seguinte: qual será seu propósito dentro da história? Por que esse personagem é necessário ali, qual diferença ele faz? Quão diferente a campanha seria se esse personagem não existisse ali? Ele ou ela venderão armas e equipamentos aos personagens? Fornecerão informações? Serão o gancho para um novo arco de aventuras? Oferecerão oposição aos protagonistas?

Partindo disso, podemos construir um contexto em que esse objetivo faça sentido. Ele será um ferreiro que vende armas aos aventureiros? Ou um membro da Guilda dos Ladrões, que servirá como elo entre o grupo e a Guilda? Ou um rei bondoso, mas covarde, que resolve os problemas da cidade contratando aventureiros errantes?

Compreender o propósito do personagem nos ajuda a entender o que é elementar e insubstituível, e o que pode ser adaptado, alterado ou improvisado no desenrolar da história. Também nos ajuda a simplificar a estrutura do encontro, quando precisamos — e todos precisaremos! — criar um personagem no improviso! Assim como em um desenho, primeiro construímos um rascunho antes de acrescentar os detalhes; o propósito do personagem na narrativa serve de guia para coordenar o resto da construção.

Por vezes, pode ser que a fagulha inicial do seu NPC não seja um objetivo narrativo, mas outra coisa: uma imagem, uma ideia inspiradora, um personagem que você já conheça ou até uma piada dentro de seu grupo. Siga essa ideia até sua raiz: o que o empolga nela? Como ela poderia se encaixar dentro do contexto da sua aventura e de seus jogadores? O que é necessário para manter sua essência, e o que pode ser diferente? Siga seus instintos, e muitas vezes eles o conduzirão a ideias fantásticas.

Entenda o contexto do personagem

Todo personagem, independente do seu propósito narrativo, possui um contexto próprio, um ambiente local embebido em uma cultura própria. Pode ser de forma ampla, como uma raça que compartilha linguagem própria e afinidade com magia, ou de modo mais específico, como um marceneiro local que cresce com os preconceitos regionais e aprende a não mexer com os lacaios do Rei do Crime. O contexto determina o trabalho, família e objetivos dos personagens, mas também seus maneirismos, formas de falar, comportamentos, preconceitos e visões que têm dos jogadores.

Claro, compreender o contexto não quer dizer ter uma lista pronta com informações triviais daquele personagem, como tipo sanguíneo ou doce favorito. Significa entender que o local onde aquele personagem cresceu, onde ele mora, com quem interage e a forma que ganha seu sustento, influenciam seus comportamentos e a forma como vê a vida.

Algumas perguntas que podem ajudá-lo a construir o contexto do seu personagem são:

– Onde o(a) personagem mora? Por que nesse lugar?

– Onde ele(a) cresceu, e como era a cultura desse local? Se diferente de onde vive hoje, por que mudou?

– Como ele(a) se sustenta? Ele(a) cuida de mais alguém? Se sim, quem?

– Como ele(a) vê outras pessoas, culturas, ancestralidades? Como outras pessoas tendem a vê-lo(a)?

Compreender o contexto ajuda a entender como aquele personagem reagiria às ações dos seus jogadores, e permite improvisar de forma consistente àquilo que não podemos antecipar.

Gostou? Esta é a Parte 1 do artigo sobre NPCs. Siga a Odyssey para não perder a Parte 2 onde falaremos sobre facções, motivações e estatísticas!

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