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O RPG de Mil Faces

rpg mil faces Blog

RPG é um jogo de narração. Calma, gente, calma! Guardem os tomates. Você já parou para pensar que essa qualidade do RPG permitiu que começassem a usá-lo em diversas outras áreas graças a sua popularização? Psicologia, literatura, educação e até bancos usam ou já usaram esse modelo como parte de seu dia a dia. Que doideira, né? É… nem tanto. Vamos falar um pouco disso e sobre algumas dessas “novas” aplicações.

Apesar de ser conhecido em larga escala por seu caráter narrativo, o RPG é, na verdade, um jogo interativo. Para que possa existir, a narração não é o ponto central da interação. É fundamental, sem dúvida, mas não central. Apesar de improvável, é possível se ter sessões inteiras sem grandes narrações de cenários, ambientações e afins, mas nunca se pode ter uma sessão sem interação, seja do jogador com o jogador, do jogador com o mestre, jogador com o sistema, ou mestre com o sistema. A interação é o ponto chave de toda sessão de uma mesa de RPG.

E não só isso. Estar em uma mesa também deveria significar que estamos em um ambiente seguro, ou seja, que podemos ser quem somos, quem queremos ser e/ou quem deteríamos ser, sem medo de receber as punições e estigmas da sociedade que vive do lado de fora dos limites do jogo.

Em 1817, um escritor chamado Coleridge criou o termo “suspensão voluntária da descrença”. Sabe quando você assiste Game of Thrones e não fica pensando “Que ridículo! Dragões não existem”, ou quando assiste a Matrix sem ficar o tempo todo questionando a verossimilhança de pessoas serem usadas como bateria para máquinas sencientes?

Isso é a suspensão voluntária da descrença. Você se permite aceitar as premissas de uma obra literária, por mais ridículas que possam ser, desde que se mantenham dentro do acordo estabelecido entre obra e leitor. Steve Pizza não causa estranheza alguma em Titio Avô, mas não seria aceito em Assassin’s Creed; a Lady Iris é muito bem-vinda em Hora da Aventura, mas não em Elden Ring (talvez a Princesa Princesa Princesa…).

Essa suspensão permite ao jogador participar ativamente do jogo e, ironicamente, relacioná-lo à sua própria vivência.

Olha só, Tolkien tem um livro maravilhoso chamado Sobre Histórias de Fadas (On Fairy-Stories) onde ele explica várias coisas sobre o funcionamento das histórias de fantasia, assim como Antônio Cândido, em A literatura e a Formação do Homem. Eles vão trazer a ideia de que uma pessoa pode aprender sobre a própria vida “vivenciando” uma vida fantasiosa (dizendo, aqui, com minhas palavras. Não foi exatamente assim que disseram).

Isso é fácil de entender se pensarmos em quantas vezes já vimos alguém que conhecemos em algum personagem? Quantas vezes já identificamos em um livro, jogo, filme, série, música, alguma coisa pela qual estamos passando? Quantas vezes já aprendemos a passar por alguma situação ao ver outra personagem passar pelo mesmo?

Nesse ponto da nossa conversa, talvez você já tenha ligado os pontos sobre o que estamos falando agora, o início de nosso papo, e onde quero chegar. Se não ligou, continua, aqui, comigo, que eu gosto da sua companhia.

O RPG na Psicologia

Já aconteceu om você aquela sensação de que “sou muito bom em dar conselhos para as outras pessoas, mas para mim mesmo…vixe!”? Então sinta-se acolhido. É muito mais fácil, mesmo, passar, entender, e superar algo quando nos distanciamos do evento. Ainda mais quando o evento aconteceu com a gente.

Pois bem, tanto uma sessão de terapia quanto uma sessão de RPG dividem o mesmo cerne: naquele ambiente, estamos seguros para falar e “viver”. Nesse caso, nossa personagem lidará com diversas situações em que terá que trabalhar diversas questões socioemocionais, assim como em sessões de terapia padrão, mas com a possibilidade de se afastar do acontecimento e se desenvolver.

Já falei que essa técnica foi desenvolvida pelos brasileiros Túlio Andrade e Germano Henning? VAI, BRASIL!!!

O RPG na Literatura

Uma coisa que sempre me deixou desbundado é o ciclo de uma influência ser influenciada pelo que influenciou. #bsod. Calma, que eu explico.

O RPG que conhecemos hoje foi influenciado, de ponta a ponta, pela literatura. Em seus primórdios, com Tolkien, Gary Gygax criou o cenário base do RPG de alta fantasia, crescendo rapidamente até se tornar a monstruosidade 626 que é hoje.

Sem surpresa alguma, mestres de RPG passaram a escrever e publicar suas próprias histórias, gerando novos jogadores/leitores, gerando novas obras etc., etc., etc. E isso acabou criando, na literatura, um estilo narrativo-descritivo característico do RPG: detalhar o que a personagem está fazendo. Vemos com muita frequência frases como: “ela abriu a porta do quarto e saiu”, ou situações mais extremas, como: “ela foi à porta do quarto e girou a maçaneta para abrí-la e saiu do aposento”, sim? Não seria mais fácil dizer apenas que ela saiu do quarto? A porta estar fechada ou aberta não tem importância alguma.

Bom… não tem em uma narrativa de livro, mas em um RPG, a porta é o inimigo mais mortal (e o melhor meme) de qualquer jogador que se preze. Na verdade, não só ela. O ato de descrever em detalhes o que se faz vem diretamente das mesas sobre as quais dados rolam freneticamente.

Então temos a literatura que influencia o RPG, que cresce e influencia a literatura de novo. Poético, sim? É a Disney-mangá-Disney tudo de novo.

O RPG na Educação

Como diriam os mineiros: NNNNU!

Aqui tem muita coisa para dizer, e pouco espaço para desenvolver. Existem, já vários professores isolados tentando encontrar uma forma de encaixar o RPG na sala de aula. Isolados, porque o ambiente escolar nunca foi um ambiente seguro, e a ideia de se formar um, apesar de amplamente divulgado como uma das preocupações da escola, é refutado com muita veemência por diversas direções e coordenações. Ainda mais quando falamos em escolas particulares. Ainda mais quando falamos de cidades do interior.

Muitos professores estão batendo contra esse movimento escolar e conseguindo mostrar que é possível usar o RPG para incentivar o desenvolvimento de mais formas de inteligência além da lógico-matemática. Os nomes nessa categoria são mil, incluindo o desta pessoa que vos fala.

Aliás, agora temos até cursos e eventos voltados especificamente para esse fim! Em junho, por exemplo, aconteceu o V Simpósio de RPG, Larp e Educação, pela Universidade Federal de Alagoas, com quase 2 mil participantes.

Consegue sentir o cheiro da mudança?

Não? Então vai assoar esse nariz (se sair bem verde, procure o posto de saúde mais próximo).

O RPG no… Banco?!

Essa eu peguei todo mundo de surpresa, tenho certeza. Não?! Ah, coé?!

A primeira vez que ouvi isso foi com um guri chamado Guilherme, de um grupo (uma dupla) chamado Se Joga Soluções Lúdicas, que está trazendo alguns cursos para mestragem de RPG em diversas situações, e uma delas, apresentadas por eles como um caso, foi um trabalho que ele fez antes, ainda, da empresa existir, em uma agência da Caixa (a instituição, não o pacote! Por favor, hein?!) para, segundo ele, “para motivar a equipe a bater as metas e resolver os problemas do dia a dia da agência”.

Preciso dizer que foi um sucesso? Se você já conhece os efeitos do RPG no convívio social e no desenvolvimento emocional nas pessoas, então não preciso. Caso não conheça, então caiu aqui de paraquedas, por isso: olá, essa é uma editora voltada a conteúdos de RPG e, sim, foi um sucesso.

Talvez eu faça uma postagem mais detalhada sobre essas outras formas de uso do RPG em nossas vidas.

É, quem sabe…

Se não chover até lá.

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