Anomalia Macabra
Introdução:
Ano 2222
Um conto futurista de Horror Cósmico por Leandro Jardim
A humanidade finalmente chegou em tempos de paz e superou muitos de seus problemas sociais, com a alta tecnologia visitou e colonizou a nossa Lua, o planeta Marte e as luas de Saturno, Urano e Netuno, assim enviou drones para pesquisar e analisar planetas por todo o Universo. Apesar da maioria das sondas terem desaparecido sem explicações, a colonização começou e seus dois primeiros planetas encontrados tiveram sucesso, então espaçonaves foram enviadas com equipes de especialistas para analisar diversos sistemas mais de perto, mas em uma dessas viagens algo estranho aconteceu e pode mudar nosso destino para sempre…
Deparei-me com nomes e termos que ouvi em outros lugares nas mais horríveis conexões – Yuggoth, Grande Cthulhu, Tsathoggua, Yog-Sothoth, R’lyeh, Nyarlathotep, Azathoth, Hastur, Yian, Leng, o Lago de Hali, Bethmoora, o Signo Amarelo, L’mur-Kathulos, Bran e o Magnum Innominandum – e foi arrastado de volta através de éons sem nome e dimensões inconcebíveis para mundos de entidades externas anciãs nas quais o enlouquecido autor do Necronomicon apenas adivinhou vagamente o caminho.
— HP Lovecraft, ” O Sussurrador na Escuridão “
Meu nome é Sargento Farina, código Delta-Gray 56, da 2ª Divisão da 1ª Força de Marinheiros Coloniais da Terra Unida, como as estações de vídeo e holograma não estão funcionando, minha mensagem será por gravação de voz…
Peço ajuda a qualquer um que possa ouvir, eu sou o único sobrevivente da exploração DG-12385-BFD estou preso na nave Expedicionária N.U. Gonda Nogad, quase sem energia, com pane no computador, sem combustível, sem conseguir dormir a dias e com vários acontecimentos que sou incapaz de entender, mas vou tentar explicá-los.
Eu… Estou desesperado e preciso de ajuda!
Eu sou membro da guarda protetora da expedição, em direção ao Planeta Aphoom 03, um planeta quente, porém com possível facilidade de terraformação e depois de terminado nossas missões ali partiríamos a uma colônia a 3 anos de distância do Sistema Aphoom, eu não lembro o nome, mas é a tal que deu certo.
Supostamente nem íamos descer em Aphoom 03, ficaríamos algumas semanas no sistema apenas, afinal os drones eram capazes de fazer todo o serviço e a escolta era mais uma cortesia fora do Sistema Solar, fora dele não haviam naves de carga ou militares, nem piratas.
Antes eu tinha uma rotina feliz, eu já estava acostumado a acompanhar espaçonaves no Sistema Sol, mas não conseguia aceitar bem que tudo tinha mudado, agora eu e minha equipe iremos escoltar as tais expedições pelo Universo constantemente, essa era só a 1ª vez e isso me preocupava muito, mas o salário realmente valia muito a pena, o tempo na criogenia não, 8 anos numa câmera apertada sonhando como se fosse acordar no dia seguinte.
Deixa-me explicar… estou confuso ainda…
Éramos ao todo eu e meus 2 soldados, John o Muralha e a Cabo Roza, 4 Oficiais que incluíam os pilotos e o Capitão, 1 programa de inteligência artificial chamado I.O.D. que comandava tudo e 16 especialistas onde a maioria eram cientistas ou algo do tipo.
A viagem foi normal no caminho, o esperado, mas algo mudou próximo a chegada, seríamos despertados da criogenia 7 dias antes de entramos no Sistema Aphoom, mas os 4 membros dos Oficiais acordaram antes devido a uma emergência externa, e todos os membros foram acordados por eles 5 dias antes do previsto.
O capitão explicou que nós havíamos sido atingidos por algo que danificou ao mesmo tempo as 6 antenas externas de comunicação de longa distância, isso era estatisticamente impossível, mas tinha ocorrido e agora estávamos sem poder entrar em contato com a Base de Exploração, satélites e com qualquer um no espaço.
Vi que todos ficaram tensos e preocupados, mas o Capitão August Alhazred e a Cientista Chefe Dra. Sonia Nodens acreditavam que ao chegar ao destino poderíamos ou consertar externamente as antenas ou alinhar as sondas e mandar um sinal de ajuda para a colônia próxima, de toda forma a espaçonave ainda estava intacta por dentro, poderíamos depois de completar a missão hibernar novamente e partir de volta para nosso sistema ou para o sistema da colônia, tínhamos suprimentos e combustível de sobra, e segundo eles não havia o que se preocupar, ainda tínhamos uma semana ou mais de trabalho para posicionar as sondas por todo o sistema e deixar drones em cada planeta e possíveis luas, tínhamos que completar a missão e superar os problemas. Sei…
Os próximos dias foram desconfortáveis para todos, enjoos e dores de cabeça eram comuns, mas o mais estranho era que ninguém conseguia dormir por muito tempo, mesmo num cochilo pesadelos apareciam ou se acordava subitamente, isso alterou o humor da tripulação
Eu só observava e ocupava a mente dos meus soldados com histórias enquanto passamos os dias fazendo manutenção, isso era tedioso e trabalhoso, mas nos mantinham longe do stress da tripulação, e a todo momento algo se soltava e lá nós íamos apressados consertar.
Nunca os dias tinham durado tanto, mas finalmente chegamos, entramos no sistema Aphoom e isso parece que só piorou ainda mais nossa situação, já pela manhã o Capitão Alhazred reuniu todos da nave e deu uma notícia que nos abalou, um dos membros da equipe científica havia surtado, pirado mesmo, O Professor Clark Derleth – pior que eu gostava daquele cara – ele havia assassinado 5 membros colegas de trabalho enquanto dormiam e destruiu parte dos sistemas de manutenção de vida de reciclagem de água e o sistema de adubo das estufas, isso diminuiu a reserva de comida a menos da metade, a gente estava ferrado a meu ver, a nave só ia parar próximo ao destino e só de lá poderíamos voltar, iamos racionar a comida
Mas não era só, o professor havia se trancado no laboratório científico e ateado fogo em tudo, destruindo o local com ele junto, o cara se suicidou de uma forma louca, dali eu já notava que havia algo muito errado.
O capitão me pediu para acompanhá-lo ao quarto do Professor e lá nós fomos.
Ao entrar no quarto de Derleth, tudo estava revirado, uma verdadeira bagunça, mas certas coisas estranhas chamavam muito a minha atenção, havia um pentagrama todo irregular, como ondulado, desenhado com sangue na parede, era uma loucura, eu nunca tinha visto nada igual, nem em filmes!
O banheiro estava vazio, exceto por um cubo verde que achei escondido, ele cabia na palma da mão, com cada lado escrito Yekub e havia um livro dentro da banheira, sua capa era de couro, pelo menos parecia couro, eu o abri, mas era uma língua que nunca vi antes, tinha desenhos bizarros, eu não olhei muito, mas nas contracapas tinham algumas anotações, duas citações de um escritor antigo e um “Obrigado a Igreja da Sabedoria Estelar”, eu não conhecia esse autor e muito menos essa igreja, mas depois que as li em voz alta, as frases grudaram em minha mente, eram elas:
“A coisa mais piedosa do mundo, penso eu, é a incapacidade da mente humana de relacionar todos os seus conteúdos. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância no meio dos mares negros do infinito, e não fomos feitos para viajar para longe. As ciências, cada uma em sua própria direção, até agora nos causam pouco dano; mas um dia a união de conhecimentos dissociados abrirá visões tão aterradoras da realidade e nossa terrível posição nela, que enlouqueceremos com a revelação ou fugiremos da luz para a paz e segurança de uma nova era das trevas„
– Howard Phillips Lovecraft
“Fora do universo ordenado [está] aquela praga informe da confusão mais vil que blasfema e borbulha no centro de todo o infinito – o ilimitado demônio sultão Azathoth, cujo nome nenhum lábio ousa pronunciar em voz alta, e que rói avidamente em câmaras inconcebíveis, sem luz, além tempo e espaço, entre a batida surda e enlouquecedora de tambores vis e o gemido fino e monótono de flautas malditas„
– Howard Phillips Lovecraft
Essas palavras e toda aquela loucura naquele quarto de alguma forma abalaram firmemente a cabeça do Capitão, ele estava imóvel ao meu lado, eu usei um isolador e guardei o cubo verde para que ninguém o tocasse, eu precisei despertar o capitão balançando seu corpo, tranquei o quarto e fomos encontrar os outros, eu achei melhor não falar do que vimos, bastava o capitão ter quase fritado a mente.
Eu sei, eu sei, parece mentira, mas escutem, piorou no dia seguinte, um dos tripulantes havia sumido depois do almoço e uma pane no sistema de segurança havia desligado as câmeras internas, procuramos por toda a nave e nada dele, o desespero tomava conta de todos, eu era o único calmo na espaçonave.
Os dias se passaram e chegamos ao ponto final e logo nos preparamos para voltar, mas então descobrimos que o protocolo da I.A. I.O.D. iria realizar primeiro a sondagem e escaneamento do planeta Aphoom 03 de qualquer forma e nós não tínhamos como impedir isso.
Mesmo com os colegas mortos, o restante da equipe científica se apressou em ajudar I.O.D. para acelerar as análises e podermos partir o mais rápido possível.
Como eu disse, só piora, no dia seguinte a Dra. Sonia Nodens me chamou para uma conversa particular, ela havia descoberto uma gravação no holoprojetor do Professor Clark Derleth com sua assistente Dra. Susan Tillinghast, que foi uma das vítimas dele na nave, eles falavam que algo estranho estava vindo, ela disse que o Professor repetia várias vezes que ele tinha chamado algo, que o ritual acabou e que era o lugar certo, ele iria fazer uma oferenda e aquele que está vindo iria libertar o algoz da humanidade e seus filhos, mas afinal que papo de doido era aquele, no fim eu acabei contando a ela do pentagrama e do cubo, não sei porque, mas eu falei e no meu íntimo eu sentia um amargo arrependimento de ter aberto a boca, mas ela prometeu não falar aos outros, ela não queria que ninguém soubesse e eu concordei.
Você que me escuta se acha que as coisas estão estranhas agora ficará mais bizarro, a primeira sonda tinha terminado a análise do espaço acima do planeta, não deveriam ter luas, mas tinha algo ali e os cientistas estavam pasmos com os resultados, dali a gente não via direito pelas janelas, mas as 6 Luas conforme dizia o computador eram pirâmides imóveis, perfeitamente alinhadas umas às outras, mas o mais estranho, cada uma era feita de composições desconhecidas e dentro de cada uma havia algo inconclusivo, a sonda foi incapaz de saber o que era ou do que o interior era feito.
A última análise dizia que havia algo grande se movendo em cada uma, mas a sonda apesar dos dados adquiridos foi incapaz de tirar fotos ou fazer vídeos, pois eram invisíveis as lentes.
Toda a equipe científica entrou em debate, pareciam não aceitar aquilo, uns diziam que deviam ter sabotado a sonda, outros achavam que era mais uma pane no computador e tinham aqueles que acreditavam que estávamos tendo alucinações coletivas, vai saber o maluco do Professor Derleth não tinha posto algo nas máquinas de comida ou na estufa, a essa altura já estávamos todos paranoicos e trabalhar para terminar aquilo tudo e partir era a única coisa que nos segurava.
Eu, na verdade, não sabia mais o que fazer, mas mantive a calma, os cientistas ainda sussurravam sobre o colega sumido e as mortes causadas pelo professor, mas pelo menos eles trabalhavam freneticamente, e eu achava que logo voltaria para criogenia e depois casa, sonho meu…
O dia seguinte foi pior ainda, pela tarde recebemos um alerta, todas as sondas planetárias enviadas a Aphoom 03 haviam perdido contato ao entrar na fina atmosfera, com isso eu tive um pingo de esperança de que iríamos embora, mas novamente a maldita I.A. iria cumprir seus protocolos, ela ia esperar resultados dos sensores de escaneamento da nave!
Com a notícia os Oficiais tentavam se acalmar e acalmar os outros, eu mantive meus dois soldados afastados e sempre ocupados com a manutenção, o clima estava tenso demais e bastava eu armado naquela parte da nave, bom eu achei que isso ia dar certo, mas a noite notei que eles não estavam nada bem.
Esperamos ainda por cinco tensos dias e os resultados só conseguiram detectar a temperatura do planeta e saber que ele tinha um tamanho 15 vezes maior que a terra, a composição tinha o resultado na tela chamado: Anomalia…
I.O.D. seguiu mais protocolos e aproximou a espaçonave ao planeta para melhorar a detecção do escaneamento, podíamos agora ver as pirâmides com os próprios olhos, ainda as vejo pelas janelas…
Não tem explicação para algo tão sombrio e para nosso desgosto o planeta também era visível a nossos olhos, é algo horripilante de se ver, ele tem veias vermelhas e verdes com um pálido brilho pulsante, que estão mais fortes a cada minuto, eu se olho para lá evito, pois parece prender os olhos, me concentro nas nuvens que quase as escondem, ele parece algo vivo, gigantesco, dormindo…, mas não dá para entender a forma ou o que é.
Só de parar para ver aquilo, todos passaram mal, eu notei os olhares, os cientistas não pareciam mais eles mesmos…
Nessa situação a Dra. Nodens dispensou todos para os quartos, ela parecia a única bem, achei suspeito, mas eu fui para a sala de segurança e esperei sem dormir, lá mesmo sem as câmeras eu podia ouvir quase toda a nave pelos comunicadores em tempo real.
Não demorou eu comecei a ouvir um zunido baixo dentro da cabeça, está aqui agora, e foi logo depois disso que as coisas endoidaram mesmo, as luas mudaram de cor, o mesmo verde do cubo, sim exatamente igual com o mesmo verde com brilho, senti um frio na espinha e o coração acelerado, eu não fazia ideia do que estava acontecendo.
Tentei chamar I.O.D. mas o computador dizia que ele havia se deletado! Como assim, logo o senhor seguir a missão acima de tudo!!
No pavor, acessei o computador central e não havia combustível para voltar, ele fora ejetado por alguém, eu me segurei e tentei achar uma solução, mas não tive tempo para nada, comecei a ouvir gritos e muitas brigas pelos interfones, não acreditei quando ouvi John o Muralha e a Cabo Roza discutindo por algo bobo, eles nunca tinham brigado por nada antes e de repente um atirou no outro, o resto estava agindo como selvagens!
Procurei por algo e achei uma informação no computador que ainda haviam drones reservas que I.O.D. não tinha acesso, eu tinha que ir à sala de comunicações e de lá poderia gravar uma mensagem e acioná-los, enviar os drones e torcer para as sondas da colônia captarem o mais rápido possível, eu sei que poderia levar semanas para elas o captarem, mas é só isso que tenho.
Entrei pelos encanamentos da nave para não encontrar ninguém, eu podia sentir o cheiro da morte acima de mim, ainda havia gente brigando, juro ter escutado sons de tambores, mas não parei por nada.
Consegui chegar à sala de comunicações e aqui estou gravando e espero que alguém encontre os drones que vou usar para enviar meu áudio.
Não quero morrer aqui! Não quero morrer agora!
Eu preciso ir, preciso voltar pra casa, se alguém ouvir minha mensagem me tire daqui!
Não há tempo de gravar mais, estou vendo o espaço pela janela da cabine e algo enorme se aproxima, e agora as estrelas parecem estar sendo devoradas, não sei o que é ainda, mas estou em pânico, ele vai em direção ao planeta, a tal Anomalia, mas acredito que a espaçonave esteja no caminho e a poucas horas dessa escuridão pelo que percebo.
Espere… tem um som, um som no espaço, ou na minha cabeça, é uma flauta! Igual dizia a anotação e está ficando mais fácil ouvi-la!
Eu não estou louco! Tudo que conto é verdade!
Preciso de resgate!
Estarei escondido no depósito de carga na área de contenção anti-nuclear 13-B.
Sargento Farina, desligando!!!
Esse conto foi escrito por mim nos anos 90 para Call of the Cthulhu, apareceu a 1ª vez na internet em um blog pessoal e posteriormente na Revista Rolepunkers da Retropunk aqui.
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