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Mais 5 Exemplos Literários para seu RPG Steampunk

literatura steampunk Blog

Os jogos de RPG dependem de nossa imaginação e criatividade. Durante as sessões, somos desafiados a criar mundos, desenhar paisagens, interpretar tecnologias, culturas, comportamentos e relações sociais entre diferentes tipos de personagens.

Alguns cenários, especialmente aqueles baseados em gêneros como fantasia medieval, ficção científica ou cyberpunk, são mais fáceis de construir. Isso porque muitos dos seus elementos narrativos já estão incorporados à cultura pop, com uma vasta gama de produções artístico-culturais à disposição de narradores e jogadores.

O steampunk, entretanto, é um cenário que exige um pouco mais de esforço para ser construído. Criar uma ambientação coesa, verossímil e envolvente para cenários steampunk pode ser desafiador, pois a representação do gênero na cultura pop ainda é menos acessível. Esse subgênero da ficção especulativa, que combina retrofuturismo, tecnologias movidas a vapor e a estética da Era Vitoriana, carrega também os valores culturais moldados pela Revolução Industrial.

Por isso, quando trazemos o steampunk para o RPG, não apenas criamos um ambiente visualmente rico, mas também nos aprofundamos em narrativas que exploram os impactos do progresso, as contradições sociais e as fronteiras da ciência. E é aí que a literatura pode se tornar uma fonte riquíssima de inspiração!

Qual literatura?

Neste artigo, explorei como obras da literatura gótica e da ficção científica do século XIX podem ser uma chave para criar aventuras steampunk fascinantes. Drácula (Bram Stoker), por exemplo, é um retrato do choque entre mito e ciência, onde as fronteiras entre o racional e o sobrenatural são desafiadas. Frankenstein (Mary Shelley), A Ilha do Dr. Moreau (H.G. Wells) e O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson) lidam com os perigos do avanço científico e as consequências de ignorar os limites éticos da ciência. Essas histórias, cada uma à sua maneira, exploram as tragédias de um progresso desenfreado: um tema central no steampunk. Por outro lado, Viagem ao Centro da Terra (Júlio Verne) apresenta um otimismo científico com uma mistura de fantasia, levando-nos a mundos subterrâneos de maravilhas desconhecidas.

Drácula (Bram Stoker)

Drácula não é apenas uma história de vampiros, é uma profunda reflexão sobre os medos produzidos por sociedades tradicionais que vivem mudanças rápidas e profundas impulsionadas pelo avanço científico. A obra encarna os temores da sociedade vitoriana quanto ao avanço da ciência, com suas novas descobertas desafiando antigas crenças sobre a vida e a morte.

O romance parte do orientalismo, localizando o horror dos mitos antigos no contexto da Europa Oriental, e imputando ao Ocidente o papel da racionalidade desveladora. A forma como o livro lida com o conflito entre o mito e a ciência chama atenção, pois é exatamente o uso da ciência, realizada de forma metódica, persistente e constante, que possibilita a derrota final de Drácula. O problema gerado pelo surgimento de uma criatura sobrenatural mitológica é solucionado pela ciência, personificada na figura do professor Van Helsing, um homem racional e moderno. A ciência surge na obra como um elemento central da modernidade, uma chave do processo de desencantamento do mundo.

O romance também revela as tensões sociais da época. Drácula não é apenas uma “criatura da noite”, mas um reflexo da decadência aristocrática e da luta entre a velha tradição e a modernidade burguesa.

Drácula no steampunk

A obra oferece um cenário rico para aventuras que mesclam mistério, horror e o confronto entre conservação e progresso, onde superstição e ciência colidem, gerando um ambiente repleto de tensões sociais e existenciais. Aplicar as ideias de Drácula ao steampunk significa explorar contradições entre dualidades: mito x ciência, sobrenatural x natural, tradição x modernidade, aristocracia x burguesia.

Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (Mary Shelley)

Frankenstein conta a história de um cientista e suas descobertas, mas o cerne da narrativa constitui um alerta sobre os limites éticos da ciência e as consequências de ultrapassá-los. A obra nos faz refletir sobre o alto custo de desafiar a natureza inexorável da morte pela criação de uma forma de vida artificial.

Victor Frankenstein é descrito como um jovem brilhante e ambicioso, obcecado em desvendar os segredos da vida. No entanto, a história explora as consequências de sua negligência em relação às implicações éticas de seus atos, tornando Victor não apenas um cientista, mas também um exemplo do “cientista louco” na literatura. Ao tentar burlar a morte e dar vida à matéria inanimada, Victor sofre as consequências trágicas de um progresso sem reflexão e limites. A criação do “monstro” serve como um espelho das próprias falhas do cientista, oferecendo uma crítica contundente à busca incessante por poder e conhecimento.

Frankenstein no steampunk

Em aventuras inspiradas na obra, os jogadores podem explorar os perigos de experimentos científicos que ignoram os limites éticos, criando formas de vida, manipulando corpos e mentes, ou buscando conquistar a imortalidade ou dominar as forças da natureza. Um elemento interessante de Frankenstein que pode ser explorado no RPG são personagens do arquétipo do “cientista louco”, com grande inteligência, personalidade obsessiva, falta de ética e tendência ao isolamento.

A Ilha do Dr. Moreau (H.G. Wells)

A Ilha do Dr. Moreau é uma obra que mistura horror e ciência. A narrativa conta a história de Prendick, um náufrago que é acolhido na ilha de um cientista obcecado em manipular a natureza e que acaba testemunhando seus experimentos de vivissecção com animais. A novela, inspirada pelo darwinismo, aborda questões éticas sobre a manipulação científica da vida animal e traz um debate visionário sobre especismo, levantando questões sobre o significado de ser humano e a diferença entre humanos e outros animais.

Outro problema central abordado na obra é até onde o cientista pode ir em suas tentativas de “aperfeiçoar” a natureza. Os animais humanizados que Moreau cria são um reflexo distorcido de suas próprias crenças e obsessões, e a obra provoca uma reflexão sobre as consequências dessa manipulação científica antiética.

A Ilha do Dr. Moreau no steampunk

A novela é ideal para cenários que lidam com a ética da biotecnologia em um contexto retrofuturista. Os jogadores podem ser desafiados a lidar com os dilemas que surgem de experimentos científicos que manipulam a vida e a moralidade em uma sociedade onde a tecnologia avança sem limites. Outro elemento interessante é a introdução de criaturas-humanas, animais que foram humanizados e que, à primeira vista, parecem bestas ou feras, mas que, ao serem observados mais de perto, revelam sentimentos, pensamentos e valores humanos.

O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson)

A narrativa explora as contradições de uma sociedade vitoriana onde o progresso e o conservadorismo coexistem em conflito. A obra conta a história de Dr. Jekyll, um cientista que desenvolve uma fórmula para separar seu lado moral e respeitável do lado sombrio e impulsivo. No entanto, o experimento dá errado e tem consequências desastrosas.

A luta interna do Dr. Jekyll, dividido entre seu lado respeitável e seus impulsos sombrios, reflete os dilemas morais e sociais da época, onde os avanços científicos questionam as normas tradicionais, e os limites entre o bem e o mal estão cada vez mais difusos. A personificação dessa contradição é expressa na transformação do respeitável Dr. Jekyll em Sr. Hyde, um monstro imoral, perverso e agressivo.

A narrativa também reflete um intenso debate sobre as consequências do progresso científico e os medos sociais por ele produzidos.

O Médico e o Monstro no steampunk

Este conto é uma excelente base para criar histórias sobre segredos sombrios, personalidades divididas e os perigos de experimentos científicos que cruzam a linha entre o moral e o imoral. Em um mundo steampunk, onde a moralidade e a tecnologia estão em constante tensão, a luta interna entre progresso e conservação pode ser muito explorada. Um elemento interessante para ser adaptado são personagens cientistas que, ao usarem a si próprios como cobaias, tornam-se vítimas das consequências de suas pesquisas. Esses personagens podem buscar conviver com isso e sofrer as consequências de seus atos ou mesmo buscar ajuda para solucionar o problema.

Viagem ao Centro da Terra (Júlio Verne)

Viagem ao Centro da Terra é um clássico que mistura ciência e fantasia de forma única. Seguindo um grupo de aventureiros, a história nos leva a explorar as profundezas da Terra, onde se encontram mundos perdidos e criaturas que desafiam a lógica científica. A obra não apenas apresenta uma visão ousada de como a ciência pode explorar o desconhecido, mas também coloca os personagens diante de desafios que combinam o racional e o fantástico.

Viagem ao Centro da Terra no steampunk

A obra é uma excelente fonte de inspiração para criar mundos subterrâneos repletos de criaturas fantásticas, mistérios e enigmas científicos. As aventuras podem envolver a exploração de terras inexploradas, oferecendo aos jogadores a chance de navegar entre o cientificamente plausível e o surpreendentemente fantástico, com dinossauros e criaturas pré-históricas, criando cenários emocionantes de descoberta e combate.

Ao incorporar essas obras no universo steampunk, os narradores e jogadores têm a oportunidade de criar aventuras incríveis. Cada uma dessas histórias nos desafia a refletir sobre o impacto da ciência, os dilemas éticos e os limites do progresso, enquanto nos oferece cenários ricos em mistério, horror e maravilhas fantásticas. O terreno perfeito para as aventuras steampunk!

Boas interpretações e sorte nas rolagens!

O Financiamento Coletivo para A Cidade do Sol a Vapor foi um sucesso! MUITO OBRIGADO à todos que apoiaram!!!

A Cidade do Sol a Vapor

Escrito e idealizado por Gleb “Crazy Sage” Igumnov e Vitaliy “Barahir” Simonov, o “The City of the Steam Sun” foi lançado em inglês e em russo e agora chega ao Brasil pela Odyssey Publicações com a tradução de Marcus Mauro, Diagramação de Alexandre Pedroso, Revisão Álvaro Ramos e Luiz Fernando “Alface” e Coordenação do projeto e Revisão final de Leandro Jardim.

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