Resenha: Arcane (2021)

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Em uma seleção de filmes pertencentes à categoria Steampunk, parece desonesto incluir uma série de TV. Afinal, apesar de compartilharem diversas características comuns — ênfase na mídia cinematográfica, elementos audiovisuais, construção de histórias primariamente embasadas em diálogo, entre outros — filmes e séries são fundamentalmente diferentes. Entretanto, Arcane é um exemplo tão bem construído do gênero que seria ainda mais desonesto não incluí-lo na seleção por algo como seu caráter episódico. Além disso, o lançamento de sua segunda temporada no momento da escrita desse texto, combinado com o FC de nosso querido “A Cidade do Sol A Vapor”, coloca nossos motores Steampunk para funcionar, com o perdão do clichê, a todo vapor.

Essa resenha vai se limitar à primeira temporada, tentando ao máximo evitar spoilers do final da série. Apesar disso, vamos falar sobre alguns acontecimentos da trama para em um próximo artigo explorar temas fundamentais sobre a série, que tendem a estar presentes em histórias Steampunk. Se já viu, ou se quiser parar nessa resenha, continue sem medo! Se ainda não viu e quer experimentar a série sem vieses, vá assistir! A gente aguarda.

Apesar de fazer parte do universo de League of Legends, o famoso jogo eletrônico do gênero MOBA (Multiplayer Online Battle Arena), Arcane pode ser vista independentemente de qualquer conhecimento sobre o jogo.

Arcane é uma série da Netflix lançada em 2021, que narra a história de Piltover, uma cidade tecnológica de estética vitoriana, manchada por um conflito civil e cindida em duas metades: Ladoalto, ou Topside: rica, tecnológica, cercada por privilégios e por uma ostensiva e elitista polícia militar, os Pacificadores; e a Subferia, ou Undercity: pobre, negligenciada e deixada aos espólios, desenvolvendo seus próprios meios de sobreviver.

Dentro desse conflito, acompanhamos a história de Violet e Powder, duas irmãs órfãs que crescem na pobreza, lutando para sobreviver. Vi lida com as dificuldades da responsabilidade de irmã mais velha e líder de seu grupo, buscando construir seu espaço em um mundo injusto e um futuro melhor para Powder, a mais nova. Powder por sua vez batalha com a dificuldade de atingir as expectativas dos seus pares, e com a tendência de se envolver em problemas, o que a traz a pecha de “Jinx”, ou “azarada”.

No outro extremo da cidade, acompanhamos Jayce, um jovem e brilhante cientista que, após ser salvo por um mago de uma experiência de quase-morte com sua mãe, decide dedicar sua vida a compreender os segredos do Arcano através da ciência, com uma tecnologia que chama de Hextec.

Seus destinos se cruzam quando Vi e seu grupo decidem invadir o laboratório de Jayce, roubam uma perigosa fonte de poder arcano, os Cristais Hex, e acidentalmente causam uma explosão, o que aumenta as tensões entre os dois lados da cidade. Frente a uma fatalidade do destino, Powder, na tentativa de ajudar o grupo em um confronto mortal, acaba causando a morte de quase todos os colegas, incluindo Vander, sua figura paterna e protetor da Subferia. Na discussão com Vi, que é capturada pela polícia logo após acusá-la de “sempre azarar tudo”, e sob um colapso emocional, Powder é acolhida por Silco, chefe de uma organização criminosa na Subferia, e passa a se chamar Jinx.

Vários anos depois, Vi é liberta da prisão por Caitlyn, uma Pacificadora filha de uma família importante, e que busca descobrir a verdade por trás do crime organizado na Subferia. Juntas, elas partem na busca de destruir o império de Silco — que, na ausência de Vander, dominou a Subferia com a disseminação de uma droga chamada Cintila, capaz de acelerar o metabolismo e conceder aumento de força e velocidade, às custas de mutações corporais e de uma intensa dependência —, e de resgatar Powder, descobrindo quanto de Powder ainda sobra em Jinx.

Jayce, por sua vez, torna-se um brilhante inventor de Piltover, transmutando-a na “cidade do progresso” com sua tecnologia Hextec, capaz de servir como fonte de energia, base para tecnologias jamais antes criadas, e até permitir o teletransporte. Entretanto, ele se vê barrado por Heimerdinger, seu mentor, diretor da Academia e conselheiro de Piltover, que teme as consequências societais de um avanço muito ambicioso. Motivado por Viktor, parceiro cientista e amigo seu, que possui uma condição debilitante e rapidamente fatal cuja cura talvez se encontre na Hextec, Jayce se vê inserido na posição de conselheiro de Piltover, com o poder de coordenar o rumo da cidade, e precisará lutar para não deixar seus ideais serem afogados no meio de intrigas políticas e conflitos violentos.

Em Arcane (como em toda boa história), o conflito move a narrativa. Os conflitos entre o Ladoalto e a Subferia escalonam de forma a escancarar as contradições das dinâmicas sociais, e demonstrar um ciclo de luta e violência que se repete na nossa própria história humana. Vander deseja garantir a proteção do povo da Subferia, mesmo que isso signifique abaixar a cabeça para certas injustiças; Silco, por sua vez, busca conquistar a independência da Subferia e fundar o distrito independente de Zaun, usando quaisquer métodos necessários. Jayce, novo e brilhante, deseja usar seus dons para revolucionar a ciência a novos patamares; Heimerdinger, com mais de trezentos anos, enxerga o tempo de forma diferente, e preza por uma reforma progressiva e constante do campo científico. Disso surge o conflito. Os personagens são tanto indivíduos com suas próprias particularidades quanto partes de uma engrenagem maior, que compõem uma sinfonia de ideias e filosofias que se chocam, produzindo novas e deliciosas consequências narrativas.

Arcane está disponível na Netflix, em lançamento de sua segunda temporada.Se quiser ver mais sobre a filosofia de Arcane e da estética Steampunk, veja a continuação dessa resenha: Arcane: Steampunk, Transumanismo e Conflitos Sociais.

O FC de A Cidade do Sol a Vapor já está acontecendo. Última semana para Apoiar!!!!

A Cidade do Sol a Vapor

Escrito e idealizado por Gleb “Crazy Sage” Igumnov e Vitaliy “Barahir” Simonov, o “The City of the Steam Sun” foi lançado em inglês e em russo e agora chega ao Brasil pela Odyssey Publicações com a tradução de Marcus Mauro, Diagramação de Alexandre Pedroso, Revisão Álvaro Ramos e Luiz Fernando “Alface” e Coordenação do projeto e Revisão final de Leandro Jardim.

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